APARÊNCIAS
O que somos e o que parecemos ser
Não, não vou revolver o velho clichê de que vivemos em um mundo de aparências. Sabemos disso. Julgamos os outros não apenas por sua aparência mas também pelo que as pessoas aparentam ser. Não é a mesma coisa. Construímos uma imagem com nossas escolhas e atitudes. Na esfera de nossas vidas privadas, tentamos criar uma imagem a partir de nosso caráter, nossos valores, nossos princípios, nossa visão ética. Mas isso só não basta. O ditado é algo como, “a mulher de César não basta ser honesta, ela tem que parecer honesta”. Parece consequente e óbvia essa lógica, que uma coisa leva a outra, mas não é verdade.
Os nossos valores e princípios podem entrar em rota de colisão com valores e princípios de pessoas que nos cercam e por conta disso somos julgados e rotulados. Você ignora isso e segue sua vida orientado por suas crenças e instintos. Vai em frente com a consciência tranquila por ter respeitado a si mesmo. Na verdade nem pensa muito nisso, afinal sua conduta preserva sua coerência e integridade. Até que um dia descobre que a “colisão” teve consequências…
As rotas opostas são expostas em conversas, julgamentos, papos no bar, desabafos… e sempre quando você não está presente no tribunal. Você se torna réu e nem fica sabendo. Assim como não fica sabendo que sua coerência agora atende por hipocrisia, que você não tem princípios é apenas um radical e intransigente, que seus valores mascaram um enorme egoísmo e por aí vai…
Manter a imagem de reservado custou o rótulo de antipático e mesmo a sua gentileza natural não passa de fingimento.
Ok, parece exagero, mas empurro estas fronteiras propositalmente para que fique evidente que nos dias de hoje a mulher de César estaria em um beco sem saída. Se as aparências enganam - outro ditado surrado - é porque hoje elas não pertencem ao seu “proprietário”. Sua autonomia em construir sua imagem é limitada, assim como suas alternativas em reverter sua fama construída (ou destruída) a partir da já citada colisão.
Você pode tentar provar que a colisão não foi nada de mais, apenas uma divergência, que não se deve levar para o coração ou julgar alguém por isso…blá blábláblá. Mas eu, de antemão, sugiro que desista. Como eu disse, isso já não lhe pertence mais. Esqueça. Dói menos. Não ligue para os olhares hostis que até ontem eram amistosos. Essas pessoas no fundo só esperavam um motivo para não ir com a sua cara, mesmo que você nunca tenha feito absolutamente nada contra elas.
Ou, para elas, ao contrário, você já deu motivos mais que suficientes. Vai saber…
Mas quer saber? Não abra mão do que você é por conta das aparências. Não negocie seus princípios. Não desconsidere seus valores para “agradar” alguém. Mantenha sua rota, sem desvios ou atalhos, pois eles são o jeito mais fácil de acabarmos perdidos em nosso caminho.


